Maria dos Anjos, de Lena Martins, nasce do encontro entre experiência íntima e pesquisa formal: um gesto de escuta radical à voz da avó — mulher imigrante de 86 anos, em processo de degeneração cognitiva — e ao modo como ela articula desejo, memória e esquecimento. A partir de um corpus de relatos e conversas, a autora adota o léxico e a sintaxe próprios dessa fala, construindo um campo poético que preserva não apenas o que é dito, mas também a respiração, a repetição e o lapso como elementos estruturais.
O livro dialoga com a experimentação de Bernadette Mayer em As Helenas de Troia, NY, de onde vem a decisão de trabalhar a partir da cosmovisão da avó, e com a decomposição narrativa de Malone Morre, de Samuel Beckett, que inspira a investigação de como extrair sentido — ou fabulação — de uma linguagem em crise.
O resultado é uma escritura que se move entre poesia e narrativa, memória e delírio, compondo um filme feito de vozes, imagens domésticas e territórios afetivos.
Em Maria dos Anjos, a degeneração cognitiva não é reduzida a ausência ou perda, mas reconhecida como outro regime de linguagem: um território onde o miolo das coisas, como diz a própria avó, é grande demais para caber no esquecimento.
O livro está em pré-venda, com lançamento e envio previsto para a última semana de outubro.
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R$ 45,90Preço
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